sexta-feira, 27 de junho de 2008

E foram felizes para sempre. Ou não.

Este era o final dos contos tradicionais que me liam na infância. Nunca pensei muito se acreditava ou não nesta sentença final. Mas, ultimamente, tenha constatado que a tradição já não é o que era e que cada vez mais conheço pessoas a sofrer por causa de um fim. Anunciado ou não. E juro que não consigo compreender.
Casei há mais de uma dezena de anos. Por amor. Óbvio! E casei convictamente de que era este homem que eu tinha escolhido para o resto dos meus dias. É nele que confio todos os pequeninos nadas da minha existência. Tenho a certeza absoluta que sou a sua melhor amiga. Olho com muito orgulho a filha que nasceu do nosso amor e sei que ele é a minha alma gémea. E nutro por ele um amor tão grande, tão avassalador, que às vezes me parece nem ficar contido no peito. Continuo apaixonada como no primeiro dia.
Ontem soube da notícia da decisão de divórcio por parte de uma amiga. Que está muitíssimo triste, devastada com essa certeza. E pensei como deve doer. O que faria se fosse comigo. Como é injusta esta vida em que nos damos a alguém por uns anos, entregamos-lhe toda a nossa vida, coração e alma, para que essa pessoa amachuque essa dádiva com as duas mãos, essas que anteriormente nos acariciavam e seguravam nos bons e nos maus momentos. Como é que o sentimento acaba? Que sinais deixa? Como é possível sermos surpreendidos? Como é que podemos fazer de tudo, mas o outro não percebe o quanto sofremos e o quanto tentamos, até chegar a um ponto em que se acha estar a enlouquecer? Por que é se deixa de investir na relação? Como se pode magoar tanto assim? Porquê? Porquê?
E se fosse comigo? Como arranjaria forças para continuar? Como poderia sair da nossa casa e começar tudo do zero? O que é que eu fazia do quarto da Leonor? Pintaria as paredes da mesma cor? Tentaria construir noutro sítio esse mesmo espaço? E as coisas para dividir? O que se faz com as fotografias felizes guardadas no álbum de recordações? E os móveis? E as prendas que o outro nos deu ao longo dos anos? Para que quereria eu a cama, se estava vazia do outro lado e com o teu cheiro nos lençóis? O vestido de noiva, o anel, as lembranças, a vida, arrumados em caixotes. Um coração pequenino que tem outra vida para cuidar e que não se pode dar ao luxo de entrar em depressão, a ter uns dias de sofrimento a sós, deitado na cama? E os fins-de-semana, de quinze em quinze dias em que o filho vai embora? E a solidão, meu Deus, a solidão?Como começar tudo de novo? Como te esquecer? Como sobreviver?
Não sei o que dizer à S. Não sei como diminuir o seu sofrimento. Apenas posso abraçá-la, dar-lhe o meu apoio. Tendo a certeza que isto não é nada. Tenho alguém que sofre à minha frente e não há nada que possa fazer. Nada. Só dar-lhe o meu ombro amigo.