quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

À Pipoquinha, a todas quantas calam e sofrem em silêncio, fica aqui um post que já esteve publicado e que estava guardado no arquivo, em rascunho. Porque é posssível voltar a sorrir de novo! :))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Num quarto de hotel ao pé de nós

Aconteceu um assassinato horrível de uma pessoa, conhecida por sinal. Podia ser um anónimo, mas não era e isso também não faz diferença alguma. O que faz diferença e que a mim me toca profundamente, para além do tirar a vida de mais um ser humano, é isso ocorrer com pessoas que, alegadamente, se conheciam intimamente. E este caso trouxe-me à memória o crime horrendo de Fortaleza, em que um amigo mandou matar outros seis amigos, movido apenas pelo interesse material.
Assusta-me este mundo em que vivemos. Causa-me espanto, perplexidade e medo perceber que num clique tudo pode mudar e que por mais que conheçamos o outro, podemos nunca lhe adivinhar as ideias, a traição, a maldade. Não há aí casamentos sem amor que escondem a violência conjugal por detrás?-.. mães que matam os filhos... filhos que batem nos pais... amigos que traem, que vendem, que matam?...
Depois vêm as anedotas, a piadola fácil sobre o tema... como se o que estivesse em questão fosse mais a preferência sexual do falecido do que a gravidade do assassinato. Que mudou irremediavelmente a vida de duas pessoas e das suas respectivas famílias e grupos de amigos. Quem privou de perto e nunca suspeitou o desenlace fatal... Os pais que criaram um filho, um menino bonito, com estudos, com tudo para ser feliz...
Disto tudo fica a certeza que nunca conhecemos verdadeiramente o outro e, se calhar, nem a nós próprios. E o medo desse desconhecido, desse(s) mundo(s) encobertos que tentamos em vão procurar nas pessoas que nos rodeiam...

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

A estranha leveza da amizade

Estranhas as amizades hoje em dia...
Tenho vindo a descobrir que as amizades, pelo menos na minha vida, tem um novo significado com o passar dos anos. Quando era criança, amigos eram os filhos dos amigos dos meus pais. Entramos depois para a escola e temos a liberdade de escolher os nossos próprios amigos.Porém, normalmente, estes duram o tempo de um ano lectivo, porque não havia recursos na altura para que a amizade fosse perpetuada. A distância matava as emoções e fazia com que nos fossemos desligando.
Lembro-me que, com doze anos, tive a minha primeira grande amiga. Passou a ser das pessoas mais importantes para mim, era com ela que partilhava a minha vida toda, a quem pedia conselhos, parecia ser à face da Terra a única que verdadeiramente me compreendia. Durante toda a adolescência, ela esteve presente. Afastámo-nos um pouco por volta dos 18/20 anos, para depois continuarmos a ser grandes amigas. Até ao dia em que eu casei e ela não apareceu. Sem justificações lógicas e com uma explicação que vim a comprovar ser mentira. Curiosamente, deu a mesma desculpa ao seu melhor amigo, que fora o meu primeiro namorado. E como mais depressa se apanha um mentiroso... desliguei-me aos poucos, pela distância, pela desilusão, pelo bulício do dia-a-dia.
Desde aí mantenho amizades que duram há vinte anos. Mesmo que só nos vejamos três ou quatro vezes por ano, sabemos que aquelas pessoas estão ali. É certo que o facto de estarmos longe, de estarmos casadas, de termos filhos com idades diferentes também não é um factor de maior aproximação. Mas sinto saudades do tempo em que as amigas partilhavam mais o dia-a-dia.
E depois vêm as amigas que vão aparecendo do nada na nossa vida. Pessoas com quem antipatizámos ao primeiro contacto e que descobrimos depois na adversidade. Com quem descobrimos todas as vezes que estamos juntas que temos mais e mais pontos em comum. Que sabemos que são daquelas amigas que estão para o bom e, sobretudo, para o mau. Que riem connosco, que pensam em nós, que nos dão colo e a mão quando caímos.
Depois há as amigas que aparecem e desaparecem, como se nada fosse. Que nos convidam para os aniversários dos filhos e que desaparecem o resto do ano. Que nos usam quando precisam e depois se esquecem de retribuir. Que só têm silêncio para oferecer. E que se admiram depois de não terem amizades verdadeiras para contar...
E ainda há, para gáudio da minha vida, aquelas que conhecemos da forma mais improvável, com quem nos sentimos nós próprias, com quem começámos por partilhar coisas pequeninas e depois progressivamente maiores. Aquelas que nos surpreendem com um telefonema, um sms, uma mensagem no FB... e quando reparamos já fazem parte da nossa vida, porque nos conquistaram.
É verdade o que diz a raposa d' O Principezinho: para que eu seja teu amigo, tu terás primeiro de me cativar. E aí sim, eu aprenderei a distinguir o ruído dos teus passos de todos os outros... qualquer coisa assim.
Acho que hoje em dia as pessoas se esqueceram de cativar. Usam mais do que devolvem, querem mais do que dão. Engraçado como tenho tantas amigas que lancham na minha casa, mas que nunca me convidaram para um lanche na delas. Engraçado como, na maioria das vezes, acabo por mandar mais sms e telefonar mais do que receber telefonemas. Bom saber que vou a tantos e tantos funerais e que quando o luto me tocou a mim, não tive ninguém do meu lado.
Bater com a cabeça, faz com que criemos resistências maiores, mas também que acabemos por nos resguardar mais. Com que nos desiludamos e nos perguntemos mil vezes por que motivo é que nos acontecem sempre estas coisas...
Não será possível manter as amizades e fazê-las crescer ao longo da nossa vida? Sem hipocrisias, sem "caganças", só com o coração puro e vontade de ajudar/apoiar o outro, dando e retribuindo, partilhando e comunicando? É este século o mais solitário de todos? Tantos recursos para falarmos, tanta tecnologia, mas tanta solidão... Para que servem os amigos das redes sociais, se eles não estão nem partilham da nossa vida? Às vezes, a história do coveiro da reportagem da Sic que tinha centenas de amigos, mas que não tinha ninguém na sua vida, faz acreditar que há muitas mais situações idênticas no país e no mundo. E que permanecemos iludidos muito mais do que queremos admitir...