quinta-feira, 21 de agosto de 2008

E se estivessem calados?

Nos últimos dias têm vindo a lume as declarações dos atletas portugueses que competem nos Jogos Olímpicos em Pequim. Após as eliminatórias, nas finais. As reacções de quem andou quatro anos a treinar e que não conseguiu a almejada medalha.
Acho que nós, portugueses, somos por vezes injustos em relação aos atletas que nos vão representar na Europa ou nas competições internacionais. A Selecção Portuguesa de Futebol, por exemplo. Na altura da partida, todos apoiamos, colocamos bandeiras nas janelas, visionamos os jogos com expectativa. Mas quando algum desaire nos toca, desistimos de apoiar. Como se os desportistas não quisessem fazer o melhor, como se a vitória fosse garantida. Os jogos, sejam de que tipologia forem, são jogos porque há que lutar para ganhar. Mas há um vencedor e os outros não o serão. E a sorte ou o azar têm de calhar a alguém.
Também me faz muita confusão que não haja o mesmo tipo de apoio quando são os Jogos Paraolímpicos. Temos uma série de campeões, mas ninguém sabe o seu nome, ninguém dá conta dessas vitórias. Mas essa é apenas mais uma das coisas incompreensíveis do nosso povo.
Mas deixa-me voltar à questão que me trouxe aqui. As declarações dos atletas portugueses. Os ditos de alta-competição. A par do treino físico, desconfio que os atletas deviam ter umas aulitas de chá, de formação cívica. É que há uma coisa na vida e no desporto chamada bom perder ou desportivismo. E a mim está a parecer-me que os nossos atletas reflectem a crise de valores que existe na nossa sociedade e que faz transparecer a ausência de esforço e de fair-play. A nossa Telma Monteiro garante que não alcançou o seu sonho, porque os júris estariam de certo modo comprados para fazer ganhar a atleta chinesa (influências do Apito Dourado, só pode!). A Naide Gomes até estava a ter um discurso coerente, dizendo que tinha feito o seu melhor, até ter a saída infeliz que ninguém tinha morrido, nem estava doente. Mas para mim, a melhor de todas foi a do atleta do lançamento de peso, Marco Fortes, que eu nunca tinha ouvido falar ( sim, eu sou daquelas infelizes que não liga nenhuma ao desporto). Para justificar-se, como se precisasse de o fazer, teve a feliz tirada de dizer que "De manhã só é bom é na caminha, pelo menos comigo". Por amor de Deus! Que raio de imagem é que estes atletas dão de nós? De preguiçosos, de pouco esforçados? Anda o Estado a financiar por quatro anos estes atletas para deixarem assim ficar a nossa imagem?

No mesmo dia, também Jéssica Augusto, após a eliminação na prova dos 3.000 obstáculos, anunciou que iria de férias. Abandonou a corrida dos 5.000 metros afirmando que não participaria porque "não vale a pena", dada a forte concorrência africana. (É alta competição, certo? Queria o quê, correr comigo?) Arnaldo Abrantes, eliminado nos 200m, justificou a sua fraca prestação com o facto de ter "bloqueado" quando viu o estádio olímpico cheio, enquanto Vânia Silva, eliminada na prova do lançamento do martelo, admitiu que "não é muito dada a este tipo de competições" (pensava que estava onde? A ver um jogo de futebol? O que é que andou então a fazer nestes últimos quatro anos?)

Estou mesmo a ver, este ano, quando quiser marcar os testes para as 8.30 da manhã o que é que eu vou ouvir de alguém que tire uma negativa. É que se o atleta que nos representa pode invocar a hora da prova como desculpa, o mesmo poderá fazer um aluno de 15 anos.
Aqui deixo a minha sugestão: e se estivessem caladinhos? Ou pelo menos, se isso for inevitável, se calhar era uma ideia o Comité Olímpico ter a boa ideia de fornecer uma cabulazinha para que saibam o que dizer, pelo menos de forma politica e desportivamente correcta. Pode ser?
Nota: Admiro imenso a nossa Vanessa Fernandes, o Nélson Évora, o Obikwelu, o Gustavo Lima, entre outros, que revelaram a sua humildade, esforço e verdadeiro valor, trouxessem ou não medalhas! Estes sim são atletas portugueses!